Afinal, o que é SCD?
Se você tem interesse e acompanha notícias sobre o mercado financeiro, especialmente no setor de crédito, talvez já tenha se deparado com essa sigla e ficado na dúvida.
Ela se refere à Sociedade de Crédito Direto, uma solução para que mais empresas ofereçam empréstimos e financiamentos.
E tem tudo a ver com a evolução da tecnologia financeira.
Esse modelo de negócio é totalmente digital e, por isso, tem algumas diferenças e vantagens em relação às instituições financeiras tradicionais.
Para quem pensa em entrar nesse mercado, é muito importante ficar por dentro dessa nova forma de emprestar dinheiro.
Neste conteúdo, você vai conferir tudo sobre SCD: o que é, como funciona, para que serve e como fazer para abrir sua própria Sociedade de Crédito Direto.
O que é SCD (Sociedade de Crédito Direto)?
SCD (Sociedade de Crédito Direto) é uma classificação criada pelo Banco Central (Bacen) para definir instituições financeiras que usam uma plataforma eletrônica para oferecer serviços relacionados a crédito.
Portanto, a SCD é um tipo de fintech, ou seja, um negócio especializado em soluções financeiras digitais.
Seu conceito é divulgado pelo próprio Bacen, que divide as fintechs em dois tipos, de acordo com a Resolução nº 4.656/2018.
Além da SCD, a instituição cita a Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), que realiza a intermediação de operações de crédito em uma modalidade conhecida como Peer-to-Peer (P2P).
Ao contrário da SEP, a SCD não tem autorização para intermediar negociações e nem captar recursos de terceiros, portanto, só pode oferecer crédito com verba própria.
Porém, uma Sociedade de Crédito Direto não se limita apenas a empréstimos e financiamentos.
Veja na sequência para que serve esse tipo de negócio.
Para que serve a SCD e o que ela faz?
A principal atividade da SCD é oferecer crédito com recursos próprios e outras soluções financeiras a partir de uma plataforma digital, que geralmente é um aplicativo para telefone celular.
Desta forma, a companhia elimina a necessidade de um atendimento presencial.
O objetivo é atender pessoas físicas e jurídicas.
O mercado B2B — ou seja, entre empresas — conta com soluções de embedded finance.
Nelas, a fintech fornece a estrutura necessária para que uma empresa possa oferecer as soluções de crédito aos seus próprios consumidores finais.
Alguns fornecedores desses serviços são white label e, por isso, permitem que seus clientes realizem essas operações usando as próprias marcas.
Mas existem também fintechs voltadas diretamente a pessoas físicas que buscam alternativas a instituições tradicionais.
Além de atender diferentes perfis de público, as SCDs também podem oferecer vários serviços, como vamos mostrar agora.
Serviços de uma SCD
De acordo com o Bacen, a SCD é autorizada a fornecer as seguintes soluções:
- Operações de crédito: concessão de empréstimos e financiamentos para pessoas físicas e jurídicas, a partir de sistemas automatizados
- Análise de crédito para terceiros: modelo B2B de fornecimento de sistemas de análise de dados para que uma organização use para aprovar e conceder crédito a seus clientes
- Cobrança de crédito de terceiros: solução B2B em que a fintech assume a tarefa de cobrar os clientes que tenham tomado crédito de outras instituições
- Distribuição de seguro: essa oferta precisa estar relacionada operações concedidas pela própria SCD
- Emissão de moeda eletrônica: a fintech pode usar carteiras digitais para que seus clientes depositem valores que são usados em transações digitais.
Embora ofereça soluções bancárias, as Sociedades de Crédito Direto funcionam de uma maneira diferente em relação aos bancos tradicionais.
Entenda lendo o próximo tópico.
Como funciona uma SCD?
Assim como qualquer fintech, a SCD funciona usando sistemas de automatização ao longo de todo o atendimento.
O cliente só precisa fazer o download do aplicativo e preencher um cadastro, no qual informa seus dados e encaminha imagens de documentos para análise.
Embora precise de recursos próprios para boa parte das operações, uma Sociedade de Crédito Direto também é autorizada a captar verba do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).
Outra característica importante do funcionamento das SCDs é a realização de uma análise de risco por meio de dados.
Além das informações fornecidas pelos clientes, as plataformas realizam uma varredura em um alto volume de informações para verificar padrões que podem ajudar a definir o risco de determinada operação.
As tecnologias de inteligência artificial e machine learning (aprendizado de máquina) tornam as plataformas capazes de realizar uma avaliação completa dos clientes em poucos segundos.
Com essa eficiência, as SCDs se destacam em meio a outras instituições.
Mas há outras vantagens, como destacamos a seguir.
Quais vantagens de uma SCD em relação aos bancos tradicionais?
Por ser mais moderna, a SCD sai ganhando em vários aspectos na comparação com as instituições financeiras tradicionais.
Conheça as suas principais vantagens:
- Agilidade na aprovação: a tecnologia de análise de risco torna o processo muito mais ágil, considerando que, em um banco tradicional, o cliente leva alguns dias para saber se teve seu crédito aprovado
- Taxas menores: por não exigir a mesma estrutura de um banco, a fintech SCD pode cobrar taxas mais baixas de juros e outros encargos, reduzindo o custo total da operação
- Personalização: a partir dos resultados das análises de dados, as plataformas são capazes de oferecer soluções financeiras sob medida, conforme as necessidades e possibilidades dos usuários
- Mais opções: os clientes podem escolher entre várias alternativas, pois as SCDs não possuem um cardápio de serviços fixo de soluções, como as demais instituições
- Competição: a presença de mais instituições especializadas em crédito aumenta a concorrência no mercado, o que resulta em melhores opções para os clientes.
No próximo tópico, confira alguns dados importantes desse segmento.
Qual é o impacto das SCDs no mercado financeiro?
O número de fintechs autorizadas a operar como SCD vem crescendo nos últimos anos, e com isso aumenta também o próprio volume de crédito concedido.
Para termos uma ideia, as fintechs emprestaram um total de R$ 21,1 bilhões em 2023 no Brasil.
Os dados são da pesquisa Fintechs de Crédito Digital, da consultoria PwC e da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), e mostram um aumento de 52% na comparação com 2022.
Precisamos levar em consideração que esses valores são referentes a todas as fintechs de crédito, incluindo as que operam em outros modelos – como as SEP que citamos no início deste artigo.
Entretanto, a mesma pesquisa mostra que as SCD têm muita relevância nesse mercado.
Afinal, 38% das fintechs de crédito em atividade no país são autorizadas a operar como Sociedade de Crédito Direto.
Para termos uma ideia, o percentual de SEPs é menor que a metade: 15% do total.
Por isso, esse setor parece bastante atrativo para investidores, como vamos abordar ainda neste conteúdo.
Quais os desafios e oportunidades no setor de SCDs?
O investimento na criação de uma SCD é uma maneira de usar a tecnologia para disponibilizar soluções financeiras de qualidade a um público diverso.
Não há como ignorar que existem clientes insatisfeitos com as tradicionais burocracias de instituições financeiras para a liberação de crédito.
Também há muitas empresas em busca de uma plataforma para viabilizar ofertas de soluções financeiras a seus consumidores.
Ou seja, uma Sociedade de Crédito Direto se habilita a preencher uma importante lacuna de mercado.
Mas para aproveitar bem tais oportunidades, há alguns pontos de atenção a observar e superar.
Por exemplo, é preciso contar com um time competente de desenvolvimento e profissionais especializados em soluções financeiras.
Além disso, ficar atento a toda a regulação necessária para a abertura de uma empresa desse tipo, que ainda vamos detalhar neste texto.
A captação de recursos é um outro limitante, por ser restrita a verba própria e financiamentos do BNDES.
No entanto, a instituição que conseguir cumprir todos os requisitos necessários poderá desfrutar de um mercado em expansão, como vimos anteriormente.
Fintech SCD: por que ter uma?
No mercado de fintechs, a SCD é o caminho para aqueles que buscam oferecer operações sem intermediários, fazendo isso de forma direta a seus consumidores.
Lembrando que uma Sociedade de Crédito Direto não depende de outras instituições financeiras para emprestar dinheiro ou oferecer outras soluções.
Dessa forma, a companhia pode controlar todo o processo de concessão de crédito, sem precisar terceirizar ações.
Além da possibilidade de cobrar taxas mais atrativas, essa autonomia aproxima a empresa e seus clientes de uma experiência mais otimizada e personalizada.
A SCD também pode se enquadrar no segmento S5 do Sistema Financeiro Nacional, um regime de regulação com exigências mais simples.
Assim, não é preciso passar por procedimentos burocráticos, como entrevistas técnicas e inspeções pré-operacionais.
Essas características tornam a SCD um modelo interessante, desde que o investidor conte com a tecnologia necessária para o funcionamento da fintech.
Como a tecnologia impulsiona as SCDs
O uso eficiente da tecnologia é a base para qualquer instituição poder atuar no mercado como uma SCD.
Somente um sistema automatizado é capaz de viabilizar a oferta de soluções bancárias sem estrutura física e um quadro grande de funcionários.
Quando uma pessoa faz uma solicitação de crédito em um banco, o atendimento é feito por um colaborador, e todo o processo de análise de risco e aprovação também depende de uma equipe.
O diferencial das SCDs é justamente empregar tecnologia para substituir todo esse processo.
O uso de chatbots ajuda a garantir suporte 24 horas do dia, e as ferramentas de análise de dados são usadas para aprovação e a personalização das soluções financeiras.
Com esses recursos, a empresa ganha escalabilidade – ou seja, pode crescer e lidar com uma maior demanda mesmo sem depender de grandes mudanças em sua infraestrutura.
Além de garantir a aprovação da operação com agilidade e eficiência, soluções tecnológicas como criptografia e tokenização ajudam a garantir a segurança das transações.
As SCDs especializadas no mercado B2B contam com a tecnologia de API, ou seja, um código que pode integrar dois sistemas diferentes.
Assim, o cliente usa a estrutura da fintech para oferecer crédito a seus consumidores finais.
Inclusive, muitas empresas já vêm obtendo bons resultados ao investir nessa área, como mostramos na sequência.
8 exemplos de sucesso de SCDs no mercado
Veja agora oito exemplos de instituições que conseguiram sucesso atuando como SCD, seja como atividade-fim ou para expandir do seu menu de soluções:
- Biz: plataforma de crédito pré-aprovado que fornece uma conta digital a pessoas jurídicas
- Blu: especializada em crédito para empreendedores do varejo
- Cora: banco digital para pessoas jurídicas, com recursos como a emissão de boletos e a gestão de cobranças, além de cartões de débito e crédito
- Creditas: oferece empréstimo online, podendo aceitar veículos ou imóveis como garantia
- GetNet: é uma adquirente, ou seja, realiza transações financeiras, e também tem ofertas de crédito e outras soluções B2B
- Movilepay: fintech integrada à plataforma iFood, que concede empréstimos e fornece carteiras digitais aos clientes, atuando como white label
- Rede: outra adquirente que atua como SCD, fornecendo a estrutura para seus clientes oferecerem a abertura de crediário aos consumidores finais
- Multicred: realiza empréstimos pessoais consignados ou com débito em conta, além de fornecer capital de giro para empresas.
Embora todas as instituições acima tenham autorização para funcionar como Sociedade de Crédito Direto, algumas também operam em outras modalidades.
Veja na sequência o que é necessário para obter essa licença.
Como funciona a regulamentação e compliance para SCDs
As SCDs foram criadas em 2018, a partir das resoluções 4.656 e 4.657 do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Essas normativas estabelecem quais serviços essas instituições podem prestar e determinam que elas devam ser constituídas como sociedades anônimas.
Em outras palavras, elas têm seu capital social dividido em ações.
Além disso, é preciso que a companhia tenha um capital mínimo de R$ 1 milhão, de forma a dar aos clientes uma garantia de estabilidade.
Fundos de investimento podem participar do controle da sociedade, em vez de apenas investirem no negócio, como costuma ocorrer em instituições financeiras.
De acordo com o Comunicado n° 41.321 do Banco Central, as SCDs não podem prestar garantias, como fazem as instituições financeiras tradicionais.
Essas sociedades também precisam seguir várias normas de compliance, ou seja, se manter em conformidade com regras internas, leis nacionais e padrões internacionais.
Como toda instituição autorizada pelo Bacen a operar, as SCD precisam implementar a Política de Prevenção à Lavagem de Dinheiro e Combate ao Financiamento do Terrorismo (PLD/CFT), conforme prevê a Circular n° 3.978 da instituição.
Como lidam com informações sensíveis de clientes, essas organizações também devem seguir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Existem ainda normas de segurança cibernética, que devem ser adotadas por todas as fintechs, conforme a Resolução BCB n° 85 de 2021.
Além de cumprir todos esses requisitos, ainda é preciso passar por algumas etapas para abrir uma SCD, como vamos explicar na sequência.
Como abrir uma Sociedade de Crédito Direto
Para abrir uma Sociedade de Crédito Direto, é preciso criar uma sociedade anônima, conforme prevê a regulamentação do Bacen.
Veja as etapas necessárias para fundar a instituição e obter a autorização para funcionar como SCD.
1. Determine a estrutura da instituição
A primeira etapa é a definição da estrutura da sociedade anônima, que deve contar com os seguintes órgãos:
- Assembleia Geral: formada pelos sócios acionistas para definir os rumos do negócio
- Conselho de Administração: formada por três membros, para aconselhar os diretores
- Diretoria: administra e representa legalmente a organização
- Conselho Fiscal: realiza a análise das contas.
2. Elabore o estatuto social
Esse documento deverá incluir todas as informações necessárias para o funcionamento da sociedade, como a estrutura e as regras para funcionamento.
Além de seguir todas as normas de regulamentação e compliance definidas pelo Bacen e pelo CMN, o estatuto social ainda precisa estar de acordo com o Código Civil e a Lei das Sociedades por Ações.
Os termos do estatuto devem ser definidos em uma Assembleia Geral com a presença de todos os sócios.
3. Obtenha um CNPJ
Para obter o CNPJ da nova instituição, é preciso preencher o Documento Básico de Entrada (DBE) no site da Receita Federal.
Guarde esse documento, pois você vai precisar dele caso precise realizar qualquer tipo de alteração na estrutura da companhia.
4. Faça o registro na Junta Comercial
Vá até a Junta Comercial do estado no qual a fintech será sediada para registrar a nova instituição.
Essa etapa deve ser realizada 30 dias a partir da constituição da sociedade.
Para isso, reúna todos os documentos elaborados, além das documentações pessoais de cada sócio.
Ao longo das etapas do registro, será necessário pagar algumas taxas.
5. Solicite autorização ao Banco Central
Como já explicamos aqui, é preciso contar com uma autorização do Bacen para poder operar como SCD.
Para isso, você terá de comprovar que segue todos os requisitos que mencionamos neste artigo.
Pode ser necessário entrar em contato com a instituição para se informar sobre detalhes desse processo, como prazos e documentos necessários.
Lembre-se de manter o capital mínimo de R$ 1 milhão exigido para poder atuar como Sociedade de Crédito Direto e estabelecer as políticas de compliance necessárias.
6. Considere uma parceria especializada
Como você conferiu neste artigo, existe um longo caminho a ser percorrido para poder atuar como SCD, o que é bastante complicado – embora seja mais simples na comparação com outros modelos.
Por isso, se você busca apenas oferecer soluções financeiras, o melhor caminho é ter uma parceria verdadeiramente especializada.
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