O crédito rotativo representa um dos principais fatores que causam o endividamento da população no país.

Por isso, autoridades e representantes do mercado financeiro discutem uma alternativa para que os juros cobrados nessa modalidade não sejam tão altos.

O problema, principalmente para quem trabalha no varejo, é que em meio a essa discussão, há quem defenda o fim do parcelamento sem juros no cartão de crédito.

Mas o que uma coisa tem a ver com a outra?

É isso o que vamos explicar neste texto.

Acompanhe e entenda o que é crédito rotativo, como funciona essa modalidade e qual é sua ligação com o parcelamento sem juros.

Crédito rotativo: o que é e qual o papel na economia?

O crédito rotativo é o sistema que define o quanto é cobrado do titular de um cartão de crédito quando ele não paga a fatura na sua totalidade.

Portanto, os juros do rotativo incidem sobre aquela parte do valor que ficou faltando pagar.

E é uma taxa bem alta, sendo considerada por economistas a linha de crédito mais cara do Brasil.

Para se ter ideia, a taxa média do rotativo em julho de 2023 foi de incríveis 445,7%.

Sendo que algumas instituições chegam a cobrar juros próximos a 1.000% ao ano, segundo o próprio Banco Central do Brasil (Bacen).

Mesmo assim, essa é uma modalidade comum entre a população de baixa renda.

Uma reportagem da CNN Brasil mostra que o uso do crédito rotativo cresceu 108% nos três anos entre junho de 2020 e o mesmo mês de 2023, período marcado pela pandemia de covid-19.

Como funciona o rotativo do cartão de crédito na prática?

O crédito rotativo é pré-aprovado quando o usuário faz seu cartão de crédito.

Ali, fica estabelecido que esta modalidade será automaticamente contratada pelo cliente que opta por não pagar o valor total da fatura.

Se o cliente pagar o mínimo indicado na fatura ou até um valor mais próximo do total, todo o excedente entra para o crédito rotativo.

Assim, no próximo mês, o valor é acrescido dos juros e somado ao valor da nova fatura.

Mas isso só acontece no primeiro mês após o vencimento da fatura.

Depois desse período, os bancos realizam um parcelamento a uma taxa de juros mais baixa.

Porém, o cliente também tem a opção de parcelar o valor integral da fatura antes de entrar para o rotativo.

Neste caso, ele também arca com juros mais baixos, e pode negociar um prazo maior para o pagamento de sua dívida.

Porém, é preciso analisar bem essa escolha, pois se o cliente estender este pagamento por muitas parcelas, pode ter que pagar ainda mais juros do que se quitasse a dívida no crédito rotativo.

O que significa o parcelamento compulsório?

No tópico anterior, explicamos que quando se passa um mês depois que o cliente entrou no crédito rotativo, os bancos parcelam o valor devido com juros mais baixos.

É essa prática que chamamos de parcelamento compulsório.

Desde 2017, as instituições financeiras são obrigadas pela Resolução Nº 4.549 do Bacen a parcelar automaticamente o valor que está no crédito rotativo, sem que o cliente precise pedir.

Essa obrigatoriedade serve para conter o efeito “bola de neve” dos juros compostos do crédito rotativo.

Antes dessa regra, o valor devido aumentava exponencialmente a cada mês, caso o cliente não quitasse o valor total da fatura.

Hoje, os sistemas dos bancos definem automaticamente a regra do parcelamento.

O valor pode ser dividido em até 24 vezes, mas o número de parcelas pode variar.

Isso acontece porque o banco determina que o valor de cada parcela será igual ou aproximado ao do pagamento da última fatura.

Assim, em alguns casos, pode ser que um número menor de parcelas seja suficiente para quitar a dívida já com os juros somados.

Fim do parcelamento sem juros? Entenda o debate

Autoridades do governo e do Banco Central reconhecem que é preciso acabar com o crédito rotativo, já que os juros altos da modalidade refletem no endividamento da população.

Porém, essa medida pode ser acompanhada por alguma regra que limite a possibilidade das lojas de oferecer parcelamento das compras sem juros no cartão de crédito.

Isso acontece porque, quando uma venda é parcelada, são os bancos que assumem o risco da inadimplência.

E como os juros servem para compensar os riscos de se emprestar dinheiro, os bancos podem se sentir prejudicados por não poderem usar esse mecanismo.

Confira a partir de agora alguns posicionamentos sobre este tema.

Posição do Banco Central

Segundo reportagem da Agência Brasil, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, em audiência no Senado, que a instituição trabalha em mudanças nas regras do cartão de crédito para amenizar o endividamento.

Porém, o dirigente pondera que a simples limitação na cobrança de juros tiraria muitos cartões de circulação.

O argumento é que, se as taxas fossem limitadas, muitos bancos cortariam cartões por entenderem que o retorno pelos riscos não compensa.

Para Campos Neto, a solução não é proibir o parcelamento sem juros, mas criar uma espécie de “tarifa” para evitar que tantas lojas ofereçam a divisão do pagamento em um número alto de parcelas.

Posição do governo

O governo federal também tem interesse em acabar com o crédito rotativo, mas ainda não manifestou uma posição clara em relação ao fim do parcelamento sem juros.

Em agosto de 2023, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que uma solução para este problema seria apresentada em até 90 dias.

Até lá, ele deverá se reunir com representantes do setor financeiro para ouvir seus posicionamentos.

Além disso, o deputado Alencar Santana (PT-SP), relator do projeto de medida provisória sobre o programa Desenrola Brasil, afirmou que incluirá no texto um pedido para que as instituições financeiras apresentem uma proposta para reduzir os juros dos cartões.

Se isso não acontecer, o projeto poderá prever um sistema semelhante ao do cheque especial, que tem a taxa limitada a 151,8% ao ano.

Posição dos bancos

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) tem um entendimento parecido com o do Banco Central.

Segundo a entidade, o cliente que oferecer um risco acima da taxa limite de juros vai perder o seu cartão de crédito.

A entidade pondera que, embora os lojistas ofereçam parcelamento sem juros, quem assume os riscos são os bancos.

Por isso, uma possível solução seria limitar o número de parcelas sem juros no cartão.

Atualmente, segundo cálculos do Banco Central citados pela Revista Exame, o prazo médio para vendas sem juros é de 13,3 meses.

Recentemente, a entidade divulgou um estudo apontando que o fim do parcelamento sem juros no cartão poderia contribuir para uma redução pela metade no pagamento de juros nominais no país, de 12,42% ao mês para 6,6% ao mês.

Porém, alguns dias depois, a entidade divulgou uma nota negando a intenção de acabar com a modalidade, embora defenda a necessidade de “aprimoramento do mecanismo de parcelamento”.

Posição do varejo

O setor varejista teme que o fim do parcelamento sem juros no cartão prejudique as vendas.

O presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), Jorge Gonçalves Filho, critica a limitação no número de parcelas, afirmando que essa medida traria danos à economia como um todo.

Além disso, o presidente do Sebrae, Décio Lima, afirmou ao portal UOL que a medida proposta por Campos Neto, de criar uma tarifa, prejudicaria os pequenos negócios e atingiria o poder de compra das famílias.

Uma das propostas do setor varejista, segundo reportagem do Terra, seria alterar as taxas de intercâmbio, ou seja, taxas de cartão de crédito cobradas das lojas pelo uso do meio de pagamento.

A ideia seria cobrar taxas mais caras para financiamentos mais longos.

Problema da inadimplência no Brasil

Os altos índices de inadimplência estão por trás de toda essa preocupação com o crédito rotativo, o que acaba impactando também na possibilidade de mudança no parcelamento do cartão sem juros.

De acordo com dados do Serasa, o Brasil tinha em julho de 2023 mais de 71 milhões de pessoas em situação de inadimplência.

E uma prova de que o cartão de crédito tem uma grande participação nesse montante foi dada pelo presidente do Banco Central, durante a audiência no Senado que citamos neste texto.

Na ocasião, ele afirmou que a taxa de inadimplência do crédito rotativo é de 52%.

Em outras palavras, mais da metade dos titulares de cartões de crédito arcaram com os altos juros da modalidade.

Portanto, a facilidade de comprar por cartão, seja aproximando na maquininha ou digitando os dados e o CVV no e-commerce, acaba contrastando com a dificuldade na hora de pagar a fatura.

Como solucionar a inadimplência nos negócios?

Em meio a tantas discussões sobre crédito rotativo e parcelamento sem juros no cartão, a única certeza que fica é que a solução para o problema da inadimplência no Brasil ainda está distante.

Por isso, esta é uma realidade que precisa ser enfrentada no varejo.

Afinal, ainda que os bancos assumam os riscos das cobranças no crédito, quem trabalha no comércio ainda precisa lidar com questões como falhas no cartão e atrasos em pagamentos.

A boa notícia é que a tecnologia atual oferece muitas ferramentas para ajudar nessa missão sem exigir nenhum esforço.

A plataforma de pagamentos da Vindi realiza retentativas automáticas de cobrança para casos de falha no cartão e é capaz de atualizar automaticamente os dados de cartões expirados.

Além disso, nosso sistema permite configurar uma régua de cobranças para enviar lembretes e notificações a clientes devedores, para pagamento no cartão de crédito ou no boleto.

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