Não é de hoje que os recebíveis são usados como garantia para uma série de operações de crédito.

Por outro lado, em alguns casos, a oferta de linhas nem sempre fazia jus ao patrimônio que a empresa tinha acumulado com esse tipo de ativo financeiro.

Era mais ou menos como ter uma casa no valor de R$ 1 milhão mas só ter acesso a crédito de R$ 10 mil.

Para reduzir esse tipo de disparidade (entre outros objetivos), o Banco Central do Brasil (BC) publicou, em 2019, duas importantes decisões, por meio da Resolução 4.734 e da Circular 3.952.

Com elas, foi instituído o registro de recebíveis, uma espécie de banco de dados desse tipo de operação.

Se você trabalha com vendas recorrentes ou pagamentos a prazo, não pode deixar de conhecer os impactos no seu negócio.

Continue por aqui e entenda o que está em jogo!

O que são os recebíveis no mercado financeiro?

Toda venda parcelada depende da intervenção de três agentes para ser realizada.

Um deles é o banco em que o lojista tem conta, por onde entram e saem os recursos que o seu negócio movimenta.

O segundo é a chamada credenciadora, a empresa responsável pelo POS, a maquininha de pagamento, que faz a ponte entre a operadora do cartão e o banco.

Sendo assim, o terceiro personagem envolvido é a operadora de cartão de crédito, que é quem concede a margem para uma pessoa fazer compras a prazo.

O valor dessas compras, a ser recebido futuramente, é chamado de recebível.

Ou seja, trata-se de toda parcela a ser paga pela aquisição de um bem, cujo credor final é o lojista.

Antecipação de recebíveis

As instituições financeiras sabem que quem tem parcelas a receber tem uma possibilidade maior de oferecer garantias em operações de crédito.

De olho nesses valores, elas permitem que empresas que vendem a prazo usem os seus recebíveis como lastro para abrir financiamentos ou fazer empréstimos.

Nessa linha, elas também trabalham com a antecipação de recebíveis, que nada mais é do que receber antecipadamente o valor de uma parcela por vencer.

Por exemplo: em uma venda com entrada e pagamento em três parcelas, uma para 30 dias, outra para 60 e outra para 90, é possível receber tudo de uma vez só.

Claro que, para isso, os bancos cobram uma taxa, a título de remuneração pela antecipação dos valores a receber.

Entenda o que é garantia de uma operação de crédito no vídeo do Banco Central do Brasil:

O que é a registradora de recebíveis?

Até a intervenção do BC pela Resolução 4.734 e Circular 3.952, todos os dados relacionados aos recebíveis eram exclusivos das credenciadoras, bancos e operadoras.

Ou seja: se você fizesse uma venda a prazo com a operadora XPTO, por meio da maquininha da ABC, com fundos do banco 123, só essas empresas saberiam dessa operação.

A registradora de recebíveis vem para acabar com esse tipo de monopólio dos dados relacionados às operações dessa natureza.

Ela funciona como uma espécie de registro público, no qual todos os dados sobre recebíveis de uma empresa ficam armazenados para consulta.

Saiba mais sobre o assunto no podcast Cashless, do Instituto ProPague:

Como funciona o registro de recebíveis na prática

O registro de recebíveis se alinha ao conceito de open banking, pelo qual dados financeiros e bancários passam a ser compartilhados por instituições financeiras.

Ele passa a integrar o ciclo de operações de conciliação bancária, atuando como um banco de dados virtual.

O registro começa na hora da transação, quando a credenciadora manda para a registradora os dados do pagamento.

Com esses dados, é criada a chamada Unidade de Recebível (UR), que passa ser ligada ao CNPJ do lojista.

Cada UR contém dados sobre a operação, tais como data da compra e seu respectivo valor, assim como a modalidade de pagamento, bandeira do cartão e quando a operação foi liquidada.

Caso o lojista consinta, esses dados podem ser compartilhados com fintechs e bancos, os quais poderão ofertar crédito com base nas informações do registro de recebíveis.

Vantagens de registrar recebíveis

Embora pareça arriscado compartilhar dados sobre operações de vendas a prazo, o registro de recebíveis já é considerado como uma vitória por lojistas e comerciantes em geral.

Lembre que essa nova instituição está alinhada ao conceito de banco aberto, cujo propósito é democratizar o mercado financeiro, reduzindo a concentração bancária.

Dessa maneira, o registro de operações a prazo vem para aumentar a transparência no mercado, servindo como uma garantia a mais para quem usa recebíveis para ter acesso ao crédito.

Confira então, na sequência, algumas das vantagens que sua empresa tem ao aderir a essa iniciativa.

Oferta de crédito mais ampla

Um aspecto para lá de positivo do registro de recebíveis é que ele aumenta a oferta de crédito, já que o lojista não fica “amarrado” à credenciadora que fez a operação.

Digamos que você tenha vendido pela maquininha da ABC, mas a credenciadora CDF tem taxas mais atrativas.

Com o registro de recebíveis, é possível fazer a antecipação desses recebíveis pela credenciadora que tiver as melhores condições.

Isso sem contar que, com dados abertos para consulta por qualquer instituição financeira, será possível receber ofertas de qualquer empresa interessada em conceder crédito.

Dessa forma, as empresas passam a contar com mais alternativas, já que as credenciadoras não são mais as detentoras dos dados sobre seus recebíveis.

Menos dependência das operadoras

Antes do registro de recebíveis, o lojista dependia 100% da intervenção da credenciadora que detinha as informações sobre esse tipo de ativo financeiro.

O registro de recebíveis permite que os dados das credenciadoras possam ser compartilhados, reduzindo assim a sua influência em operações de crédito.

Portanto, não importa com qual maquininha e bandeiras de cartão sua empresa trabalhe, com o registro, seus dados estarão disponíveis para quem precisar.

Margens mais justas

Outra vantagem bastante considerável é o fim da trava bancária, que limitava o acesso a crédito para quem usa recebíveis como garantia.

Consistia em um mecanismo protetivo usado por bancos que, basicamente, retinham os recebíveis até que um empréstimo fosse quitado.

Nesse caso, se o lojista pedia um empréstimo de R$ 1 mil e tivesse um montante de R$ 20 mil em recebíveis, esse valor não podia ser usado como garantia para outros empréstimos.

Com o fim desse mecanismo, as margens passam a ser mais justas, adequando-se ao real valor apresentado pelo lojista.

Redução da burocracia

Outra vantagem do registro é que, com ele, a burocracia tende a ser muito menor na hora de pedir antecipação ou um empréstimo.

Como os dados poderão ser acessados por qualquer instituição, a empresa não terá que se preocupar em juntar tantos documentos para comprovar que tem recebíveis em vista.

Melhor para pequenas empresas

O mecanismo de trava bancária era particularmente prejudicial para as pequenas empresas.

Afinal, elas têm uma margem de manobra muito menor quando se trata de pedir crédito, então, nenhuma possibilidade de dar garantias pode ser desprezada.

O registro é positivo para as empresas de pequeno porte justamente por aumentar a sua capacidade de gerar receitas com recebíveis, aproveitando-os em sua totalidade.

Mais possibilidades de crescimento

A ampliação da oferta de crédito e de antecipar recebíveis significa também a possibilidade de crescer de forma sustentável.

Para negócios que trabalham com receitas recorrentes, isso faz toda a diferença na hora de projetar expansões ou de adquirir novos bens de capital para fazer o negócio crescer.

Isso sem falar das esperadas reduções nas taxas em operações de antecipação de recebíveis, já que o registro público serve como uma garantia a mais.

E as desvantagens?

Ainda que as vantagens do registro de recebíveis superem os pontos negativos, eles existem e precisam ser considerados.

Cabe destacar que, quando se trata de operações envolvendo crédito, sempre existe o risco da inadimplência de parte a parte.

Digamos que sua empresa apresenta como garantia um montante de R$ 50 mil em recebíveis, mas apenas R$ 40 mil são honrados.

Se o contrato de crédito não tiver nenhuma cláusula para blindar contra a inadimplência, sua empresa fatalmente terá que arcar com juros decorrentes de eventuais atrasos.

Há, ainda, outros pontos que valem ser considerados a respeito do registro de recebíveis. Acompanhe.

Exposição de dados financeiros

Com os dados financeiros disponíveis e abertos à consulta, toda e qualquer instituição financeira poderá contactá-lo para oferecer crédito com base neles.

Isso abre as portas para empresas de todo tipo, inclusive aquelas que trabalham com taxas mais altas ou condições desfavoráveis.

Risco de endividamento 

Além disso, para empresas que já estejam arcando com parcelas de empréstimos antigos, há sempre o risco de superendividamento.

A propósito, segundo uma pesquisa publicada no portal UOL, na década que vai de 2011 a 2021, a dívida das empresas brasileiras cresceu espantosos 149,6%.

Portanto, é preciso olho vivo e muito planejamento para evitar que uma vantagem competitiva não venha a se transformar em um problema.

Como usar recebíveis como forma de financiamento

O ideal é só recorrer aos recebíveis em casos nos quais o capital de giro da empresa não dê conta de cobrir certo gasto.

Seria o caso, por exemplo, de uma obra motivada por um acidente ou para adequar a infraestrutura da empresa.

A outra forma de utilizá-los é como fonte de recursos para financiar expansões ou investimentos em marketing, vendas e pessoal.

Se bem usados, os recebíveis podem impulsionar o crescimento e gerar ainda mais receitas recorrentes.

E se você trabalha com esse modelo de negócio, não deixe de se programar para o evento que vai impulsionar o segmento, o Recorrência 2021

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