O futebol americano e o brasileiro são esportes distintos, que são populares em países com culturas bem diferentes. No entanto, ambos dependem da mesma estratégia para sobreviver no futuro: recorrência e relacionamento com os torcedores.
Preparei este texto para explicar como essas táticas podem transformar negócios esportivos ao redor do mundo.
O futebol americano deixa de lado a TV tradicional
Em março de 2021, a NFL assinou um contrato de 100 bilhões de dólares com alguns dos principais players de mídia e serviços de streaming norte-americanos, entre eles Amazon e Disney.
A empresa de Bezos garantiu uma das melhores negociações: a exclusividade para transmitir as partidas da noite de quinta-feira da NFL a partir de 2023. Segundo a Liga, a inclusão dos streamings busca “permitir aos fãs um acesso ainda maior aos jogos que eles amam”.
No ano passado, Tien Tzuo, CEO da Zuora, plataforma líder de recorrência nos Estados Unidos, escreveu um artigo prevendo que 2022 marcaria o fim da TV tradicional.
De fato, esse acordo da NFL é uma derrota para as tradicionais redes de TV norte-americanas. Não tenho dúvidas de que o movimento irá desembarcar em breve no Brasil com força total.
No entanto, já tem gente se mexendo por aqui: o Grêmio lançou sua própria plataforma de conteúdo (streaming). Provavelmente todo mundo já está sabendo do acordo bilionário da NFL, mas talvez só eu e os gremistas estejamos por dentro desse golaço do Grêmio.
NFL: a decisão de mudar foi correta?
Uma questão ficou na cabeça de muitos fãs: será que a NFL acertou nessa decisão? Claro que é um montante impressionante. Porém, o que a Liga deixou na mesa? Qual foi o trade-off dessa negociação?
Para matar essa charada, melhor começar com uma outra pergunta: por que essas empresas toparam desembolsar toda essa grana?
O principal objetivo é trazer novos clientes recorrentes para suas plataformas de streaming e construir um relacionamento com milhares de torcedores da NFL pelo mundo todo.
Isso vale 100 bilhões? Considerando o modelo econômico da recorrência, talvez muito mais.
A recorrência no Futebol Americano e nos Esportes
Tente imaginar o LTV de todos esses clientes ao longo dos próximos 10 anos. Quanto de Cross-sell e Up-sell essas plataformas de streaming podem explorar a partir do relacionamento que elas vão construir com os milhares de torcedores da NFL?
Além disso, as plataformas terão em mãos uma avalanche de dados, hábitos e informações sobre o comportamento das pessoas. Essas empresas estão pagando por um acesso detalhado a:
- O que os fãs consomem
- Quais são os conteúdos favoritos
- Quais são os jogos mais vistos
- Dispositivos mais utilizados
- Qual o tempo médio de atenção em cada jogo
- Quais os melhores horários
- e mais
Enfim, não há dúvidas de que estamos falando de ativos extremamente valiosos: recorrência, dados e relacionamento. A estimativa é que uma média de 100 milhões de pessoas assistam ao Super Bowl.
Além disso, vale relembrar que a pandemia digitalizou muitos hábitos de consumo, inclusive o jeito de ver televisão e acompanhar grandes eventos.
Segundo a empresa de pesquisa Nielsen, o evento de Futebol Americano foi o primeiro na história a romper 1 bilhão de minutos de streamings feitos, com uma média por minuto de 5,7 milhões de pessoas vendo o jogo pelas plataformas digitais.
Por que um produto recorrente de streaming é tão valioso?
Recorrência, Dados e Relacionamento
Streamings são negócios que possuem alto RDR! Mas não adianta procurar no Google o significado, pois eu acabei de inventar. Já que estamos falando dos Americanos, faz todo sentido ter siglas. E quer dizer:
- Receita Recorrente
- Dados de Consumo
- Relacionamento
Mas o conceito não é novo, todo negócio que tem alto nível de Recorrência, Dados e Relacionamento é uma mina de ouro.
É nesse ponto que vejo a iniciativa do Grêmio como genial. Imagina esse produto de streaming turbinado pelo programa de sócio torcedor?
Isso significa que o time vai saber no detalhe quem são seus fãs, além de extrair dados como gênero, idade, localização e mais. Já pensou em um clube de Futebol medindo NPS?
Acredito que, no futuro, todo Clube de Futebol terá o seu programa de Sócio Torcedor ligado com a sua própria plataforma recorrente de streaming. Há muito conteúdo para ser explorado, por exemplo: os momentos que vão além da partida.
Será que no futuro os Clubes de Futebol vão continuar precisando de intermediários para ter audiência e receita? Tenho convicção que não. Talvez a grande jogada seja justamente não ter intermediários e criar um relacionamento direto com os fãs.
Em 2017, escrevi um artigo sobre como transformar clientes em fãs. E, agora, chegou a hora de falarmos sobre como transformar fãs em clientes.
A Vindi vem trabalhando em conjunto com grandes Clubes de Futebol para ajudar nessa missão da Recorrência desde 2018.
Gosto de pensar que nos próximos anos a estratégia do Futebol Brasileiro não será sobre ganhar dinheiro através da venda de direito de imagem.
O futuro do Futebol será sobre como construir relacionamento e receita recorrente diretamente com seus fãs!
Desde os exemplos internacionais aos nacionais, espero que você tenha gostado da nossa troca sobre como essas três estratégias são fundamentais para a reinvenção do negócio do Futebol Americano. E a lógica do RDR pode ser aplicada com sucesso em qualquer negócio.