M&A é a sigla para mergers and acquisitions – ou seja, fusões e aquisições, o processo de união de forças entre duas empresas ou até mesmo pela compra de um negócio por outro de maior porte. Esta união pode ocorrer por meio de uma fusão propriamente dita ou pela compra de um negócio por outro de maior porte.

O cenário de investimentos deste tipo foi tema de painel realizado durante o Innovation Pay 2022, o principal evento de pagamento da América Latina, realizado no dia 16 de novembro no Hotel Unique, em São Paulo.

Com a presença de mais de 1 mil pessoas, o evento teve mais de 13 horas de conteúdo, incluindo a gravação de episódios especiais do podcast Dentro do Ringue.

Além do painel M&A, os participantes conferiram muitas outras atrações – dentre elas, a presença do chefe de estrutura do Banco Central, Carlos Eduardo Brandt, que participou de um bate-bola sobre o Pix com o economista Ricardo Amorim.

A sexta edição será realizada em 2023, e já é possível reservar os ingressos.

M&A é destaque em Painel do Innovation Pay com Locaweb e TOTVs

O painel sobre M&A no Innovation Pay reuniu representantes de duas empresas com mais de 20 anos de estrada que seguem na vanguarda do mercado digital: Locaweb e Totvs.

Innovation Pay 2022: Fernando Cirne, CEO da Locaweb Company, e Dennis Herszkowicz, CEO da TOTVS.

Painel sobre M&A e fintechs mediado por Gustavo Brigatto, fundador da Startups, com Fernando Cirne, CEO da Locaweb Company e Dennis Herszkowicz, CEO da TOTVS.

Participaram da conversa:

  • Dennis Herszkowicz, CEO da Totvs
  • Fernando Cirne, CEO da Locaweb
  • Gustavo Brigatto (host), fundador e editor-chefe do blog Startups.

Os executivos falaram sobre como são definidos os investimentos e fizeram uma projeção para o futuro e também comentaram o panorama econômico e como ele reflete nos negócios, além de falar sobre abertura de capital e formação de ecossistemas.

Confira nos tópicos a seguir os temas abordados na conversa.

Cenário de investimentos em startups

O CEO da Locaweb falou sobre o cenário atual de investimentos em startups. Cirne destacou que, em seus 24 anos de existência, a empresa adquiriu 20 empresas, encontrando uma grande diversidade e muitas oportunidades que renderam um bom retorno.

“O Brasil é um mar fantástico, você encontra de tudo! Então, a Locaweb soube fazer um crescimento orgânico muito interessante”, declarou. 

Cirne afirmou ainda que os investimentos por meio de M&A devem ser feitos de forma criteriosa e sustentável, principalmente no que diz respeito às contratações. O executivo acredita que isso faltou para alguns negócios, mas que tanto a Locaweb quanto a Totvs tiveram equilíbrio e não precisaram arcar com as consequências.

“Felizmente, não precisamos demitir ninguém. Conseguimos, com os parafusos na nossa mão, continuar crescendo, sem causar dano para nenhum dos nossos recursos. Isso é louvável, mas teve gente que talvez tenha errado um pouco a mão na velocidade. E é ruim isso. Ninguém gosta de ter que fazer demissão”, comentou.

Conhecedor do ramo de investimentos, Brigatto destacou os movimentos recentes das duas empresas, levantando a bola para que Herszkowicz falasse sobre como ele vê esse cenário.

“A Locaweb estava muito ativa até o ano passado, tirou um pouco o pé do acelerador. Agora, a Totvs está com a maquininha ligada de novo”, comentou o host.

O CEO da Totvs acredita que passar por investimentos de diversas modalidades é uma situação muito comum para novos negócios. “Basicamente todas as empresas, em qualquer setor, precisam estar com venture capital ou private equity ou com angel ou qualquer quer que seja. Todas elas já passaram por um ajuste”, argumentou o executivo, que ainda vê espaço para novos ajustes em alguns negócios.

Panorama

Os dois executivos comentaram o panorama econômico atual e como ele pode influenciar nos novos investimentos via M&A.

“Me parece óbvio nesse momento que, com a mudança de juros e de disponibilidade de recursos, ela não vai mudar rapidamente. Alguns meses atrás, ainda tinha muita gente com a esperança de que isso fosse algo rápido. Hoje está claro que não é, é um processo, vai levar um bom tempo ainda. Eu acho que os fundos já tomaram essa decisão, de que eles preferem marcar para baixo o que eles puderem marcar e começar a fazer, eventualmente, novos aportes”, explicou Herszkowicz .

Cirne faz uma projeção semelhante: “a Locaweb comprou muitas empresas dois anos atrás, de gaps que a gente tinha em nosso ecossistema. A Locaweb, quando fez IPO em 2020, atuava muito mais em plataforma de e-commerce. Já tínhamos pagamentos, mas queríamos encher esse ecossistema”, relata.

Para ele, a desvalorização das empresas de capital aberto – incluindo a própria Locaweb – influenciou na recente desaceleração dos investimentos que Brigatto havia comentado. Antes disso, porém, a empresa havia feito movimentos importantes.

“Nós compramos 14 empresas e tínhamos um espaço para encher e havia muita disponibilidade de empresas no mercado. Então nós corremos, compramos, fomos muito felizes nisso”, afirmou Cirne.

Brigatto também falou sobre o cenário das startups em um episódio especial do podcast Dentro do Ringue.

Como empresas com mais de 25 anos de história seguem na vanguarda?

Empresas como a Totvs e Locaweb têm se destacado de forma contínua no mercado digital, mesmo em um momento em que se fala muito sobre fintechs e startups – assim como a Stefanini, avaliada em US$ 5 bilhões, com forte atuação no exterior. Herszkowicz falou sobre a situação:

“Como uma empresa listada, como empresa que já está no mercado há muitos anos, nunca tivemos a oportunidade de não ter os dois mandatos, de crescimento e rentabilidade. Não tivemos essa possibilidade na vida da Totvs. Fomos obviamente construindo um negócio sempre escorado nesses dois pilares”, destacou.

O executivo lembra que, diante das rápidas mudanças no mercado, muitos novos negócios não estavam preparados para manter o crescimento com rentabilidade. Porém, ele vê potencial para melhora.

“A maior parte delas são boas empresas, que conseguiram construir soluções que atendem a dores reais de empresas, de clientes. Então, apesar do sofrimento que elas estão vivendo nesse momento, eu vejo um futuro interessante para boa parte delas”, afirma.

Para Cirne, o panorama de “menor disponibilidade de dinheiro” e “maior cobrança por crescimento e rentabilidade” não causou grandes reflexos para a Locaweb. Segundo ele, a missão de “ajudar empresas a crescerem e prosperarem por meio da tecnologia” é essencial para a diversificação da atuação do grupo.

“A Locaweb nasceu como hospedagem e domínio, muitos conhecem a Locaweb só como hospedagem e domínio. Só que, hoje, a Locaweb tem dois terços da sua receita no e-commerce. Ela é plataforma, é pagamento, é logística, é ERP, é geração de leads, é muito mais do que hospedagem”, destaca Cirne.

Assista a um trecho do painel:

 

Como funciona M&A e quais são as métricas envolvidas?

Cirne prosseguiu sua fala afirmando que atualmente uma boa parte do mercado já adequou seu preço. Ele chegou a comentar dois casos de empresas que negociaram M&A com a Locaweb, mas o acerto não se concretizou – sem citar os nomes dos empreendimentos. Para ele, são casos que ilustraram uma certa “arrogância” dos empreendedores.

“Não deu match de valuation… essas duas empresas, duas semanas depois, ligaram para a gente e falaram: ‘olha, minha rodada deu errado e, pelo amor de Deus, se você não me comprar, eu vou quebrar’. Poxa vida, é um pouco de arrogância. Você colocou salto alto, recusou uma oferta. Aí deu errado a sua rodada, você queima caixa e agora vem bater na porta de forma desesperada para a gente te comprar?”, questiona.

Em relação às métricas usadas no valuation, o CEO da Locaweb criticou o uso do múltiplo de receita, defendendo o uso do DCF para essa finalidade.

“Às vezes, eu vou conversar com uma startup e o cara fala: ‘quanto você acha que eu valho em valuation?’. E eu digo que valuation não tem múltiplo. Existe fluxo descontado de caixa. A gente não paga múltiplo, a gente paga o valor presente das receitas futuras, do EBITDA futuro”, destaca.

Métricas

Para facilitar o entendimento, confira o significado de algumas métricas citadas:

  • Receita: valores obtidos a partir de um investimento – neste caso, o faturamento da empresa
  • Múltiplo de receita: tipo de valuation pouco adotado atualmente, baseado na relação entre o valor de mercado de uma empresa e seu faturamento conforme a métrica escolhida
  • DCF (fluxo de caixa descontado): sigla em inglês para uma forma de valuation a partir de uma fórmula para calcular a estimativa de fluxo de caixa futuro do negócio
  • EBITDA: os ganhos de uma empresa sem levar em conta juros, impostos, depreciação e amortização, uma métrica que indica o potencial de operação do negócio.

Outras definições

Veja também as definições de outros termos usados na conversa:

  • Fundos: espécie de condomínio de investidores, que reúnem verba para aplicar em uma iniciativa – no caso, uma fusão ou aquisição – e repartir os ganhos 
  • Valuation: é a avaliação de uma empresa, ou seja, o processo de determinar o valor justo do negócio, também chamado de valor intrínseco, para estimar o potencial do investimento a ser feito
  • IPO (oferta pública inicial): sigla em inglês para indicar o momento em que uma empresa oferece pela primeira vez suas ações na bolsa de valores, ou seja, abrindo seu capital
  • Venture capital (capital de risco): investimento em empresas com potencial de crescimento rápido e faturamento baixo, com o objetivo de injetar capital e influenciar no seu crescimento, considerado uma operação de risco
  • Private equity: aplicação que consiste em dar um aporte de capital privado para financiar operações de empresas de porte médio e potencial de crescimento, mas sem acesso ao investimento pelo mercado de capitais
  • Angel investment (investimento anjo): modalidade em que o investidor adquire uma participação minoritária e atua como conselheiro para orientar os executivos e participar de algumas decisões
  • Unicórnios: startups avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão.

IPO: no checklist, o primeiro item é dar lucro

Herszkowicz falou sobre a origem da utilização do múltiplo de receita no valuation, criticada por Cirne. Ele destaca que, há cerca de 15 a 20 anos, o cenário dos investimentos era diferente, pois dificilmente uma empresa abria o capital sem ter lucro.

No checklist, uma empresa que não rendia lucro aos empreendedores não se qualificava. “E aí, obviamente, toda a situação mudou, o juro foi para zero e tudo mais. Isso criou uma situação nova, onde empresas que não tinham lucro ainda ou tinham uma previsão de lucro para dali 10 anos, 20 anos estavam abrindo capital”, relata.

Nesse cenário, o múltiplo de receita foi a alternativa encontrada para avaliar o potencial de um negócio sem lucro. Porém, muita coisa mudou desde então, com a taxa de juros voltando a subir, alterando a condição de mercado.

Para ilustrar essa mudança, Herszkowicz deu um relato sobre a uma divulgação recente de resultados trimestrais para os colaboradores da empresa. Ao perceber um certo desânimo em razão da primeira queda após uma trajetória de altas, o executivo explicou aos funcionários que o cenário entre 2008 e o período atual foi uma exceção.

“Foram 15 anos irreais, que nunca aconteceram antes e que, provavelmente por um bom e longo tempo, não vão voltar. Infelizmente. Foram anos muito bonitos, muito legais, mas que geraram, obviamente, um grau de arrogância por um lado, de irresponsabilidade por outro muito grande”, destacou.

Ecossistemas: porque são criados e como ajudam os clientes?

A partir de uma série de investimentos, tanto a Totvs quanto a Locaweb se transformaram em ecossistemas. Brigatto observou que, apesar de aumentar as possibilidades de geração de receitas, este processo aumenta a complexidade das operações, e Cirne opinou que esta é uma mudança gradativa. “Isso vem em uma evolução natural de uma demanda do cliente”, destacou.

O executivo usou como exemplo a plataforma de e-commerce. Como cerca de 80% dos clientes da Locaweb são pequenas e médias empresas (PMEs), surgiu a demanda de ter uma plataforma para atuar em várias frentes – ou seja, um ecossistema.

“Hoje, para fazer e-commerce você precisa ter: logística, pagamento, lead…não é tão simples. Quando era pequenininho no e-commerce, era só fazer no marketing um banner. Hoje, você tem Google, tem marketplace, tem Instagram, Facebook, TikTok, Influencers e assim vai. A vida é muito complicada. O PME precisa resolver tudo isso num ambiente único. Então é de uma demanda do cliente que surgiu isso. O cliente quer resolver tudo num back-end só”, reforçou.

Por isso, os investimentos via M&A são feitos com o objetivo de evoluir a plataforma para criar um ecossistema. O objetivo principal dessas operações, segundo o executivo da Locaweb, é proporcionar ao cliente mais facilidade para tocar seu negócio, aproveitando o conhecimento dos novos empreendedores em suas áreas.

Herszkowicz destacou que o ecossistema é criado pensando no cliente pequeno, já que grandes empresas têm estrutura para manter suas próprias soluções e evitam se tornarem reféns de uma única plataforma.

Complexidade

O CEO da Totvs também destacou que a criação de um ecossistema é uma iniciativa altamente complexa.

“Quando você se propõe a expandir muito o seu perímetro de atuação, isso traz uma quantidade de desafios culturais de um lado e operacionais e financeiros de outro, também muito grande. Então eu diria inclusive que, no nosso caso, a gente hoje ainda está na metade da jornada”, destacou.

Já o executivo da Locaweb ressalta que as formas de publicidade evoluem constantemente, o que certamente exigirá novos movimentos no futuro. “Provavelmente, daqui a cinco anos haverá outras 20 formas de vender e eu vou ter que incorporar isso dentro do sistema. Por isso que a maquininha de compra de empresas não para”, destaca.

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